sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Custo

É claro que iria doer de vez em quando, este é o custo. E é claro que mesmo os regidos pelos sóis mais superadores sofrem em um domingo à noite, vendo Fantástico e comendo estrogonofe sozinhos. Signos de fogo. É, este é o preço. Alguns psicólogos dizem que para quem segue direitinho a receita, 6 meses é o suficiente. A gente levou uma noite só para sentir o que sente. Eu sinto. Sinto que errei também. "Pensamentos, atos e omissões". Mas a verdade é que quando falo em vez ou outra, não estou mentindo e é isso que me assusta. Estou aqui, linda, dirigindo a minha vida sem lembrar de nada, rindo alto como sempre, fazendo piada de tudo. Daí, no farol, do nada, alguém cruza a faixa e parece com você, com seu meu cabelo, com a sua minha roupa favorita, com o seu meu sorriso, com o seu meu café, com o seu meu desafeto. Doem, sangram. Depois somem. A saudade nunca consome a felicidade de um bom ariano, não nego.  No entanto, não negaria que ela existe. E quando algum gatilho aparece, tão logo me estranho, porque eu estava aqui dirigindo a minha vida numa boa, numa rua bonita, numa estrada enorme, e, do nada, mil gatilhos atravessam a faixa de pedestres. Esta saudade, picadinha, igual aquele jalapenho que você ama, dói uma vida inteira. Não todo dia, mas sempre com uma intensidade que fulmina e vai embora, do jeitinho que a gente fez.






sábado, 24 de setembro de 2022

Na ZL

Típico ariano, encontrei-te numa festa. Esperado para câncer, fez-te romance.  Eu servi vinho na caneca. Ce preparou chá na taça. A junção dos nossos astros se traduziu em noites viradas ao som de Gil. Em segundas veganas sob à luz da Betânia.  Praia no frio de São Paulo. 

Sempre espero ir, é isso que o ariano faz. Só começa, não termina, vai embora. Voltei. Um, dois, três... finais de semana. Minha intensidade te meteu medo. Sua corajem me deu segurança. Paixão? Acende, pausa. Continua só talvez. O amor é obra - construção. Os amigos me deram um mês. Já são quase três, só não tem nome. Não pelo signo, pelos ritos dos títulos. Sou exigente. Tão diplomada em partir, dessa vez, quero ficar. A primavera chegou, a gente não voltou para casa. Não precisa nomear, precisa ser. 

domingo, 17 de julho de 2022

Porteiro

Te vi  muitas vezes.

Por que  nunca disse?

Cê parecia distante.

Estava viajando.

Morei naquela casa também.

Quer cachaça?

Vai arder?

Áries com aquário.

Vim para isso.

Vou ficar fora.

Vai voltar logo?

Não sei.

Volta.

E o Mar?

E eu? 

Não te conheço.

Vim pra te ver. 

Vai voltar?

Sempre. 

 





sexta-feira, 15 de julho de 2022

Filtro dos sonhos

Assim como muitas pessoas, não acredito tanto em destino. O que nos diferencia é amar convencê-las do oposto.  Na verdade,  gosto de ver poesia em tudo, e quando ela não existe, bem...  a gente dá uma forçadinha. Outras vezes, o cáos dá uma super força.

Eu tenho um  filtro dos sonhos e ele é perfeito. Se ganhei esse acessório por destino ou sorte, não sei. Mas a narrativa é que foi o destino que trouxe esse objeto que, há anos, é-me essecial. Sou uma mulher de muitos sonhos e andanças, sou a dona do substantivo intensidade. Assim como disse Fernando Pessoa "tenho em mim todos os sonhos do mundo". E se os tenho todos, é bom ter um filtro para usar com eles (risos).  

Gostaria de me estender e contar os detalhes relativos a esse presente que "a vida me deu", mas  esta é uma história antiga e só me recordo de algumas coisas. É o causo de alguém que fez uma amiga por causa de um acidente e, depois, para agradá-la, foi a uma festa na qual estava super desinteressada. 

Quase arrastada, fui à tal festa. Aqui, advirto que, na maioria das vezes em que não coloco fé em uma atividade: quando não espero absolutamente nada de uma festa,  um passeio, um rolê e, até um encontro, a coisa sempre vira o jogo. A festa estava perfeita! Todavia, por ironia do destido, logo eu, a inimiga do fim, precisava ir embora e, pior, sozinha.  

Nesse tempo, a gente chamava táxis. Deixei a minha amiga encaminhada e chamei o meu. Fiquei mexendo no telefone e, quando reparei, do nada, o veículo já estava lá. Chateada por ir embora, mas feliz por estar, supostamente, tomando a decisão correta, apressei-me para entrar. Ao adentrar o carro, qual não foi a minha surpresa: já havia um passageiro. Desculpei-me pelo engano e fui saindo. Para a minha preocupação, o taxista avisou que por causa das condições do tempo, os outros táxis estavam indo embora e eu não ia conseguir debandar tão cedo. Agradeci e disse que esperaria. Para a minha alegria, mesmo sem  saber para aonde eu ia, o passageiro oficial me ofereceu uma "carona". Percebendo que o convite era fraterno, aceitei. 

No caminho, "como é de são efeito", fomos nos conhecendo. Descobri que ele estudou na mesma escola que as minhas primas, em uma cidade totalmente distante da que estávamos. Também estáva indo estudar na mesma cidade universitária em que uma delas estudou. Foi à festa, porque, de última hora, um amigo do seu quase "ex-laboratório" da pós-graduação o convidou. Sentindo-se deslocado, decidiu ir para casa. 

Sem grandes pretensões, trocamos nossos números. Ambos estávamos de mudança: ele dentro dois  dias, eu, de dois meses. Para minha surpresa, ele ligou. Para minha maior surpresa, encontramo-nos: um dia antes de ele mudar para outro estado. 

Na mesa de um bar que eu detestava, dialogamos por horas. Conversamos como, raramente, conversa-se em semanas. A gente se encontrou de verdade. Quando o estabelecimento fechou, partimos. Cada um para a sua casa. Nada que passamos, em tantos anos naquela cidade, tinha sido tão legal (dissemos). 

Viramos as costas e, tornando-nos amigos de redes sociais, perdemos o contato. É justo dizer que a culpa foi principalmente minha e, sobretudo, de uma época difícil da minha vida. 

Em alguns meses, procurou pela minha melhor amiga no Instagram,  pegou o endereço dela e, sem que eu soubesse, enviou-me o tal filtro dos sonhos de presente.

Hoje, a gente ainda conversa: eu, ele e o filtro. Eles me acompanham por toda parte, quer com os olhos, quer com a mochila. 

Depois de anos, brevíssimo, em um terceiro estado, reencontramo-nos. Foi o tempo de uma cerveja.  

No último eclipse, aconselhou-me a ir olhar o céu. Na última Super Lua, foi a minha vez de lhe alertar.

Não sei se acredito em destino, mas nestas histórias, sim. 

Quem sabe um dia esta terá final? Quem sabe já teve e é bem bonito.

terça-feira, 5 de julho de 2022

Términos

Estava pensando comigo que os términos são sempre difíceis. Aliás, será que são? Da última vez que terminei um relacionamento, não tive tempo para sofrer. Não que não "quisesse", mas a vida estava batendo sonoricamente na minha porta e, de início, não deu para chorar na cama:  meu pai estava doente, meu avô estava doente, e, em seguida, também adoeci. 

Será que os términos são sempre difíceis? Talvez em parte. 

Chorei uma vez.  Pesada e sentidamente. Um choro meio filmico, daqueles de assoar o nariz. Com surpresa, tenho carinho por este dia. Sem falar nada, a minha mãe e o meu pai estiveram ali comigo, o que nos aproximou ainda mais. Ela fez um chá e deitou comigo na cama, ele me deu uma valeriana e um abraço. Ninguém pediu para eu para falar nada - melhorei. 

Depois destes dias, fiz uma viagem perfeita ao Rio de Janeiro, reencontrei a minha autoestima, senti-me linda, interessante, uma mulher incrível: estou assim até agora (risos).

E aí, a gente recomeça, como aconselha Miguel Torga. 

Mudei de casa, de vida, cativei e fui cativada por pessoas incríveis. Em 9 meses, voltei a ser quem eu era: a respirar e a ventilar a vida. Também tornei-me outra pessoa: mais bonita, mais alegre, mais feliz.  Não é exagero nenhum dizer que isso tem relação com o contexto que encontrei em minha nova cidade: valorização pessoal e profissional, um céu perfeito e um cinema beeem barato.

Pelas primeiras vezes, tenho sentido saudade. Antes, sentia uma raiva infinita e a sensação de que ela nunca passaria. Hoje, sentir essa saudade me assusta, mas também me cura. Voltar seria um desencontro comigo, não é só inviável, é inrealizável, reconhecer isso é maturidade. 

Neste processo, tenho aprendido que a decisão por nós é que não é fácil. Mais difícil que viver um término é ficar sozinho para enxergar seus defeitos de perto, sem precisar do contraste dos outros e, pior, sem poder culpá-los. Isso, sim, é tortura. Mas também é um processo de autocura, autoamor, (re)descoberta.

De fato, não sei responder se os términos são sempre difíceis. Pelo que conversamos, parece que sim, mas são também experenciados de formas diferentes. Alguns, como o meu, ficam em modo de espera e depois viram saudade. Passei quase 5 anos ao lado de uma pessoa e, ao terminar, fui da raiva ao autoamor. 

Agora, tenho me ocupado com algo em que sempre acreditei: "o imperioso".  Deixo a vida fluir e, curiosa, observo seus movimentos. Não ato e nem desato nós. Só acompanho, dançando, o movimento das cordas. Com intensidade, apaixono-me pelo dia e suas oportunidades, mas sem qualquer "sufoquidão". 

Abaixo,  a minha adaptadação de Sisífo:

SÍSIFO - Miguel Torga

Recomeça….

Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciada,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És mulher, não te esqueças
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças…


sábado, 4 de junho de 2022

Organizando medos e coragens



Escrever ao som do spotify tem sido uma tradição. É uma forma de relaxar - pelo menos um pouco. Como sempre repito, não escrevo porque quero, mas porque preciso. Muitas vezes, esse ofício dói. Enfrentar os fantasmas, antes, significa encará-los. Sim, um clichê. Mais um, dentre tantos outros deste espaço. Sou um clichê humano: poemas e dramas passageiros. Hoje não será diferente. 


Neste momento, estou ouvindo um som chamado “Meu número”. Esta canção não tem absolutamente nenhuma relação com o meu movimento de vida e tão pouco  com o que preciso dizer, mas é uma ótima música (risos). Além disso, ela me deu uma abordagem para iniciar esta conversa. 


Na canção, o eu-lírico declara: “o meu número nunca mudou”. Ademais da minha compaixão por essa persona que deseja amor e demonstra apego, fiquei pensando que, ao contrário dela, o meu número já mudou duas vezes: há dez e doze anos.


A primeira troca de telefone se deu quando me mudei de São Paulo para Minas Gerais. Neste momento, eu e os meus 19 anos saímos de mãos dadas nos achando os desbravadores. De lá para cá, tanta coisa aconteceu. Fui para fazer graduação, apavorada em não dar conta do recado e não fazer amigos. Na atualidade, sou doutoranda e mantenho grandes amigos da faculdade e do mestrado. A segunda alteração rolou quando fui cursar uma licenciatura em Portugal. Nessa época, não havia Whats'App. 


Mas esse diálogo não é para falar sobre os meus números, essas trocas são apenas sintomas de outras mudanças. Assim como as das minhas caixas postais. Se essas sequências numéricas mudaram, é porque mudei de espaços físicos e psicologicamente. Entre esse percurso de graduações, mestrado e uma pandemia, mudei seis vezes de cidade e nove de casa. O que isso significa, estou sempre descobrindo. A princípio - braços fortes, de tanto arrastar mala, e casas para passar as férias em diferentes partes do globo. 


Também significa a falta de um lar fixo: outra vez, física e psicologicamente. Não que meus amigos não cumpram esse papel do ponto de vista afetivo. Na verdade, eles são TUDO, são meus anjos. O problema é que, uma hora na vida, a gente precisa de um lugar para se aquietar. Depois dos 30 e algumas doenças genéticas, isso se intensifica bastante. Intensidade para mim era outra coisa. São escolhas. Amo as que fiz. Por mais difíceis e amedrontadoras, não faria nada diferente. Mas, ué, por que, então, este texto?


Há duas semanas, outra vez, mudei-me. Depois de doze anos, regressei para São Paulo. Passei pouco tempo, mas o suficiente para ficar doida pela minha casinha e já começar a pensar na adoção de plantas e gatos. Apesar disso, em algumas horas, outra vez, vou me mudar, dessa vez para o interior. O diferencial desse momento é a minha reclamação por passar 15 semanas (e contando) morando longe do meu novo lar “oficial”. Parece que a pessoa de 2022 não está tão mais desbravadora como aquela de 2010. 


Por outro lado, o diferencial, neste momento, é a animação por tantas histórias que estão para acontecer. Pelas belezas que esses dias me proporcionarão. O medo, dessa vez, vem com mais certezas, mais esperanças. Se eu pudesse voltar atrás e abraçar cada versão de mim, eu diria “mais fé e menos ansiedade''. Depois, agradeceria por elas terem passado momentos tão difíceis e, ainda assim, dentre tantas durezas, trazido-me até aqui. Agora é só aguardar o que a versão pós interior contará. Espero que ela olhe para essa de hoje com a mesma animação (contraditória) e esperança que estou tendo. Que venham os novos tempos! Querido mundo, vou continuar te abraçando com as pernas! 

E os números? Bem, os de telefone já não mudam. E a caixa postal oficial passou a ser sempre a dos meus pais.

domingo, 20 de março de 2022

Com Poetas

Estava aqui conversando com os poetas e a verdade é que não chegamos a um consenso. Hoje a conta não vai fechar. Hoje estamos todos  bem Renato parafraseando Camões. O ápice com os maus do século é questionar o que tem de tão agradável nessa dor. Vontade de ir e ficar. Vontade de assistir a um filme que já terminamos e  pausamos várias vezes. Você já assistiu algum audiovisual com um poeta? Netflix ou Amazon? Fazia tanto tempo que eu não bebia, mas poetas são companheiros incríveis. Essa gente é tão intensa que apenas uma Stella Artois me deixou chapada. Pouco costume, pouco sangue ou ótimas razões? O que são, afinal, os trinta? Os poetas não sabem. Leminski não ganhou prêmios.  Estamos aguardando a melhor oportunidade. Esperando qualquer uma. São tantos sentimentos nesse quarto. Fernando não tem todos eles, mas Pessoa tem todos os sonhos do mundo. Nunca comentou sobre o dinheiro. O problema é que a conta não fecha. Como diria Nina Morena, "a inflação não favorece os romances latino-americanos". Hoje eu e a Stella estamos na companhia dos poetas, dos filmes e das paredes nas quais tento escrever. Em geral, a gente se resolve lá fora. Todo dia, voltamos radiantes. Somos os sóis das noites. Hoje está chovendo e eu estava aqui conversando com os poetas. A verdade é que a conta não fecha. 

Só isso. 

sábado, 5 de março de 2022

De passagens

Sempre tive medo de mortes precoces. Não pelos jovens, mas pelos bons. Assim como o Renato, vocês sabem o que acontece com eles. Com 17, perdi um amigo. 17s dele, 18s meus. Chorei essa perda com uma amiga de 20 e poucos que nem sequer se despediu. Recentemente, perdi a Mia Zapata. Não a conhecia. Fiquei lendo aquela notícia antiga. Olhando aquela foto tão indigital.... Não tenho medo de morrer.  Nunca tive. Apavora-me não viver com intensidade. Não existe nada de novo nisso. Existe algo de feliz e triste. Feliz, porque já tenho uma vivência intensa. Triste, porquanto também não tenho. Nos fins de semana, férias e feriados - viva, enlouqueço. Durante a semana, sempre morro. É difícil, a gente tem que pagar o que apronta. Até aqui, realizei algumas loucuras orgulháveis. Outras nem tanto. Nada orgulháveis, mas, sim, Loucuras. Memoráveis. Experiências de quase morte. Algumas bem quase. Um pouco irônico quando se detém pavor da morte.  Mas não tenho medo da morte, meu pânico é não viver. Viver sempre significou o exagero: "vamos?" "vamos!", "bebe?", "sim!", "fuma?", "viaja?".... Não é irônico, é icônico que tenha chegado até aqui sem tatuagens e  piercings. É incrível que tenha chegado. Viva, sem tatuagens e piercings. Os trinta  trazem suas imposições. Viver é o exagero. Mas viver, de agora em diante, é o não exagerar. Sempre tive medo de não viver. Durante a semana, sempre morro, mas nesta, irei à praia. Em um mês, um piercing. Um ano, uma tatu. Onde? Tenho o desenho, falta o lugar. Tem tanta coisa que morre precoce. 

terça-feira, 1 de março de 2022

O que eu quero?

Desde dois mil e dez, a minha vida tem sido permeada por constantes mudanças. De cidades, casas, países, contextos pessoais e profissionais. Isso se deve aos meus sonhos. Planejei, executei e alcancei. Não falo isso por arrogância, mas porque sou grata.  Sou grata a Deus, à espiritualidade, ao universo e à sorte. Sim, à sorte. Porque sempre existe um bocado sorte em encontrar apoiadores. Sempre os encontro. Nenhuma vitória é exclusivamente minha. 

As vezes, reflito sobre a minha vida e penso em como teria sido tão mais fácil voltar para a casa dos meus pais depois de terminar a gradução. Ter uma vida mais tranquila, não pagar aluguel, não fazer tudo sozinha. Já dormi no chão, perdi shows, viagens aos quais queria muito ter ido. Passei por coisas bem mais duras que essas. Faria outra vez, mas não indico. Mesmo visionando o mais fácil, mantive-me impetuosa. Espalhei meu mundo por aí. 

Hoje, tenho amigos em diferentes países e alguns convites para trabalhar nesses lugares. Todo dia, considero a possibilidade. Sempre me questiono se o meu grande lance não é  transitar pelo mundo, "ser etéra".  Deixo isso pra lá. O sonho de um concurso no Brasil me trouxe até aqui, não existe a possibilidade de desistir. Além de mim, muita gente acreditou e acredita, inclusive mais que eu. 

Primeira 

Para passar no mestrado, uma das minhas estratégias era ler editais anteriores e descobrir como o processo funcionava. Nessas pesquisas, descobri que a parte curricular era bastante valiosa e que determinados itens valiam mais pontos. Um deles era apresentação de trabalho em congresso internacional. Gente, é muito caro apresentar em um evento desses. Apareceu um, mas era em outro estado. A meta era fazer o que fosse possível para ir até lá. Mesmo determinada, tudo parecia suficientemente impossível. Eu recebia uns 10 reais por hora aula. Nunca sobrava dinheiro - faltava.  Ouvi, repetidamente, que o ideal seria desistir - e era. O sonho falou mais alto.  Fomos eu e a minha fé pedir para atrasar um mês de aluguel. Deu certo. Fui ao evento em março. O resto do ano foi sempre pagando um mês de moradia no outro. Não me orgulho. 

Quando, em dezembro, o décimo terceiro caiu, os assuntos na escola eram as maravilhas que seriam feitas.  Recebi 700, com 650, regularizei o aluguel atrasado. Foi duro. Nesse interim, estudando entre uma aula e outra, acordando de madrugada para ler, ficando sem almoçar, dormindo em cima da escrivaninha, tentando estudar depois trabalho... FUI APROVADA. Último lugar. Meio (0,5) ponto de diferença entre mim e a pessoa que não passou. Meio ponto foi o que me deu a tão almejada vitória. Meio ponto foi o que me separou de um ano de inteiro me sentindo  digna e com as contas plenamente pagas. Separou-me de happy hours e presentes de natal. 

Segunda 

Pouco depois de formada, na mesma época dos dez reais/aula, recebi um amigo que estava em apuros, para passar um tempo na minha casa. Não era uma boa época para ninguém. Dentro das minhas impossibilidades, fiz o meu melhor. Tínhamos um quarto e um banheiro. Foi suficiente. Todos os dias, ele me fazia olhos de gatinho. Época boa. Maquiagem perfeita. Meses depois, ele começou no melhor emprego do mundo e foi morar em outra cidade. 

Chegou a seleção do mestrado, é preciso ter dinheiro. Dinheiro para a inscrição. Dinheiro para o envio de documentos. Para fazer as cópias.... É preciso muito dinheiro. Eu, como sempre, continuava somente com os meus sonhos na carteira. Mas, o meu amigo, não. Agora, ele tinha um emprego excelente. Ofereceu-me e me emprestou 200 reais. Passei. Ele ficou TÃO orgulhoso. Sem bolsa de estudos e morando em capital, demorei anos para conseguir o valor para  quitar o empréstimo. Quem se matou para entrar não teria sossego para fazer o curso. 

Ele jamais aceitou o pagamento. 

Quatro anos depois, sou doutoranda: devo um mestrado, um doutorado e, quiçá, um concurso inteiro. 

Sou grata.  Não só as "minhas vitórias". Não posso desistir. 


 



quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Vítima

Quando fui ao Rio de Janeiro pela primeira vez, diga-se Niterói, minha primeira senção foi de incômodo. Além das causas-core, que são um assunto futuro, esse incômodo veio da famigerada percepção de injustiça no ar. O primeiro motorista de aplicativos com quem andamos (eu e a equipe) veio comentando sobre como as pessoas davam mole e eram assaltadas ou furtadas por culpa própria, uma vez que deixavam chave, carteira e celular nas mesas dos restaurantes. 

Oi??? 

O mais irritante é saber que esse discurso que defende ser  suficientemente absurdo colocar pertences na mesa enquanto se come é amplamente compartilhado Brasil a dentro. Na sociedade brasileira, você é duas vezes obrigado a ter bolsas, pastas e pochetes. A primeira porque, sim, infelizmente, se você não se cuidar, no Rio, em Sampa, em BH... Você será, sim, assaltado ou furtado. A segunda, porquanto, além de experenciar a violência, em uma dessas situações, você ainda vai  ouvir os famosos "mas você também foi...", "a culpa é sua, quem mandou..."

Gente, por favor, parem de culpar a vítima. Ninguém sai à rua gritando, "por favor, assalte-me, furte-me, leve o celular que ainda estou pagando e faça vários pix." A pessoa que deixou o celular na mesa pode estar faminta, pode estar tendo um dia ruim e, por isso, distraída. Pode ser só um distraído lindo exercitando o direito de existir. Mas ela não causou assalto ou furto nenhum. A violência é responsabilidade de quem a pratica, do Estado, mas não do indivíduo que só quer almoçar.

Por falar em almoço. Há uns anos, estava almoçando com vários professores em uma instituição onde lecionei. Era um sábado à tarde, todos havíamos começado a trabalhar lá pelas sete. Um desses docentes ainda era estudante de graduação, por falta de dinheiro, trabalhava e estudava. Trabalhava de manhã e à tarde. Estudava à noite. Passou outra semana puxada. Chegou à sua casa, cozinhou e limpou. Preparou  aulas até de madrugada. Morto, no caminho para o curso de sábado cedo, tentando segurar o ferro mais próximo no ônibus, dormiu em pé. Deixou o celular no bolso de trás da calça. 

Ao contar como "perdeu" o telefone, antes de tudo, culpou-se. Quando eu disse "vítima", desabou. Fazia Letras, mas não conhecia esta palavra. Feixe de luz. Era muito mais que um dispositivo móvel perdido. 

Por favor, parem de culpar a vítima.

Rotina

Quem é que, todo dia, não tem vontade de se mudar para o interior, largar o trabalho, dizer não ao patrão? Quem é que, todo dia, não quer ficar na cama? Quem não tem vontade de pegar o carro e ir à praia ilimitadamente? Quem não se questiona, todo dia, o que faz e como faz para fazer? Quem não se pergunta se dinheiro vale tanto tempo investido? Quem não se pergunta se os planos vão dar mesmo certo? Quem não se pergunta se não é o momento de mudar a vida? De assaltar um banco. De ligar para o grande amor e perguntar o que  fazer tantos desperdícios depois. Quem não pensa em gastar menos, comer mais, comer menos, gastar mais? Quem, hoje mesmo, já não quis ser outra versão de si mesmo morando em um lugar melhor? Ter mais qualidade de vida. Quis viver, mas não teve coragem. Quis ligar, mas não teve o número. Não teve crédito. Passou o dia na eterna covardia, na indomesticável dor de sobreviver ao hoje e esperar o amanhã.  Só uns 30 anos +. Quantos de energia? Quantos de verdade?





quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Dilúvio

Dilúvio - este é o nome de uma das músicas  que fazem com que a minha playlist do spotify seja o  meu lugar favorito no mundo ultimamente. Falando em música, hoje estava andando de metrô e me questionando qual seria a minha favorita. Esta e outras perguntas do tipo são uma tradição nas aulas que medio e os/as estudantes, não raramente, ficam pensando por horas para achar uma resposta. Como o meu papel, pensando em uma perspectiva comunicativa e até pós-metodológica, é mais ouvir que falar, nunca voltei a pergunta à professora e, consequentemente, nunca vivenciei a dificuldade da resolução. Assim sendo, depois de anos na retaguarda, tocou esse som da Carol Conká e pensei que essa poderia ser a minha música favorita. No mesmo momento, questionei se seria, de fato, ou quais outros sons, filmes, livros, viagens, etc. seriam os “meus melhores”. Difícil.  

Depois de muito autoquestionamento, lembrei que já preenchi muito perfil de rede social dizendo que a melhor música do mundo seria "Hey Jude", do Beatles. Mais ainda, comprei uma edição limitada e caríssima da Rolling Stones, com as 500 músicas mais estouradas de todos os tempos, somente para ler a respeito desse  tão amado hit. De fato, considero a música boa, mas a verdade é que, há anos, não a escuto mais.    

Por outro lado, esse pedaço de memória também me fez pensar em um tempo passado, quando essa canção dialogava com a minha própria vida. Na minha ótica, ela falava sobre motivação. Nas minhas pesquisas, sobre uma pessoa tentando motivar alguém cujos pais estavam se divorciando. Em outros termos, naquele momento, a música tinha sido feita para mim. 

Passa o tempo, vem outras situações e outras músicas favoritas dialogavam com os momentos. Acabei concluindo que a pergunta não deveria ser qual é a sua música favorita da vida, mas qual é o momento da vida que faz esta música ser a favorita? Obviamente, seria uma pergunta mais profunda e, talvez, por isso, não praticada.

Apesar de Dilúvio estar na minha lista há meses e eu sempre tê-la amado, somente hoje me veio esse pensamento orgasmático de que esta seria a melhor música de todos os tempos. Por acaso, pouco antes de ouvi-la, descobri que tenho diabetes e que, se quiser continuar existindo, a minha vida terá que mudar radicalmente. Peguei o metrô para ir me despedir do molho tarê e também de mim. Estou na capital de São Paulo desde novembro e nada me relaxa mais do que pegar a minha playlist, comer o metrô e ouvir um japonês. Agora as coisas irão mudar? Tenho medo. 

Sei que existem situações piores, mas desde sempre convivo com a diabetes e seus resultados práticos acometendo da visão à vida dos meus familiares. Uma dessas existências era de uma das minhas avós maternas, uma mulher forte com quem eu queria ter convivido. Também tem outros dilúvios me secando ultimamente. Este me inundou até o telhado. Entretanto, como ex - devota de  Beatles, estarei motivada. 




segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Paradoxos

Quatro textos em quatro dias - já posso pedir música no Fantástico. Alguém está superando as expectativas ou precisando se comunicar, reorganizar-se…


Introdução


Enquanto escrevo esta querela, escuto BaianaSystem e fico pensando se isso seria uma homenagem ou uma traição à Chico Science. Vocês precisam escutar esta banda, gente, sério.  Eu a conheci no último domingo, por meio de uma das melhores pessoas que me apresentaram nos últimos anos. Luciana. A Lu é a esposa do Renato, um dos meus melhores amigos da vida. Re e eu nos conhecemos desde 1997, por volta dos oito anos. A Lu, conheço desde 2017, mas com todo respeito ao meu best, Luciana foi amizade à primeira vista. Primeiro, porque ela me tratou muito bem desde o segundo em que nos conhecemos. Depois, porque ela me chamou para comer pizza. Terceiro, porque ela tem uma tatuagem perfeita no pulso e todo mundo que tem tatuagem (perfeita) nesta parte do corpo é bom sujeito ou boa sujeita. Como se não fosse suficiente, a Lu gosta de RAP. No último dimanche, Renato, eu e a Luciana fomos ao shopping ouvindo Racionais e voltamos escutando BaianaSystem. E é por aí que a nossa conversa começa. 


Paradoxos


Infelizmente, aqui em São Paulo, a violência faz parte da realidade do dia-a-dia. Muitas  vezes, a gente anda com o celular escondido ou deixa ele em casa. Sei que não faz sentido, mas, muita gente que não consegue pagar outro sem se matar age assim. Recentemente, soube de uma menina  que se salvou de ter o aparelho roubado porque escondeu ele na marmita (é sério). 


Tendo essas questões à vista, eu, que escuto Racionais desde os quinze e, desde os dezesseis, sou professora, não consigo enxergar essas situações de violência sem também sentir compaixão por quem as executa. Mais ainda, sinto culpa. Quando ouço, leio e vejo esse abandono social, sempre considero que aquela pessoa que está “cometendo um crime” poderia ser um estudante meu e deveria estar na escola, na faculdade e/ou no emprego dos sonhos. 


Recentemente, o Mano Brown disse alguma coisa desse tipo no podcast dele: “a gente precisa considerar que a conta não fecha no caso de muitas dessas crianças da Fundação Casa. O governo oferece abandono e quer cobrar muito deles”. Eu não lembro as palavras exatas, mas o sentido era esse. De outra parte, o convidado dele, que não vou nomear para não dar palco, disse que primeiro era preciso resolver a situação das pessoas que estavam trabalhando e sendo assaltadas. Obviamente, concordei com o Brown e discordei do fulano.


Mais para o fim do ano, estava reforçando o meu posicionamento enquanto lia o “Diário de um detento: o livro”, do Jocenir. Gente, esta obra causa um choque de realidade tão grande. Até para quem é das humanidades e já espera certas coisas, é pesado. Cada vez mais, percebia essas questões de uma forma sensível.  


Nesta altura da nossa conversa, cabe confessar o meu lado mau. Gente, eu julgo sem pena e tenho ódio dessas pessoas que falam que bandido bom é bandido morto, que é para colocar a rota na rua e coisas do tipo. Por esses aí, a minha compaixão é nula. Já desisti de respondê-los, mas se não odeio todos, porque alguns são parentes, odeio todos os seus discursos.  


Fechando o primeiro parênteses, em uma das noites que eu estava lendo o livro do Jocenir, meu pai chegou em casa, mostrou-me as mãos e disse: Vão-se os anéis, ficam-se os dedos. Meu pai é uma peça à parte. Em resumo, havia sido assaltado no portão da nossa casa. Levaram-lhe a aliança,  enfiaram-lhe a mão no bolso, pegaram-lhe a carteira e a jogaram no chão depois de revirar. Por acaso, isso era dia 24 de dezembro, diga-se véspera de natal. 


E agora, José? Agora, foi com seu pai. Vai ter compaixão? Vai se sentir responsável?


Aqui, vale o segundo parênteses. Consolei meu pai dizendo que, felizmente, não lhe levaram o celular, levaram “apenas a aliança”. Isso foi um milagre, porque o assaltante olhou apenas um dos bolsos dele e o celular, que, logo nesse dia, estava lá, o cara não viu. Mas como a aliança era antiga, já estaria desvalorizada rs. Obviamente, meu progenitor me corrigiu, docemente, explicando que a aliança aumenta de preço com o tempo e que levaram um anel de uns mil reais, da renovação dos votos de casamento. Até hoje ele está sem aliança…


Nos dias que se seguiram, muitas pessoas foram assaltadas da mesma forma. A moça que faz a minha unha, um rapaz no ponto de ônibus e outras várias pessoas. Só quem escapou foi a menina da marmita e uma outra que ia à padaria e levou bronca dos assaltantes, porque estava na rua sem celular e sem motivo. 


Nesse ínterim, fiquei muito apavorada em sair. Lembrei de quando fui assaltada e é uma sensação de quase morte -  não desejo para ninguém. 


Como era fim de ano e eu estava de férias das aulas e do doutorado, estava saindo sem parar para rever amigos como o Renato e a Luciana. Por algum tempo, parei de fazer essas coisas. Depois acabei voltando, mas sempre meio em pânico, porque nem queria pagar Uber e nem queria chegar cedo rs. 


Aconteceu que a polícia começou a aparecer. Eu a vi, no mínimo, umas cinco vezes pelo bairro. Em algumas delas, com umas motos enormes que, segundo o senhor meu pai “sobem até parede”. Adivinha quem passou a se sentir menos desesperada? 


Sim, paradoxos. 


Mas, agora já é fevereiro e olhando tudo de longe, vendo o desgoverno do país e o encarceramento em massa, recordo-me da frase que ouvi de uma palestrante de um centro espírita. Ela tinha tido o filho recém assaltado em Belo Horizonte e falou o seguinte sobre o assaltante: “a pessoa já está numa vida dessa, não sou eu que vou desejar mais mal”. 

É isso, gente - não sou eu que vou desejar mais mal. Não amo menos meu pai por isso, mas fiz minhas preces por estas pessoas. Que estejam bem e que saiam dessa vida, que tenham um governo melhor e, sobretudo, melhores oportunidades.


O meu papel é lutar direito, fazer como a Luciana: participar de organizações sem fins lucrativos, colocar a mão na massa e ainda ouvir bandas boas como a BaianaSystem. Compaixão sem ação, ficar lendo, como eu tenho feito, é bastante cômodo. 


Escutem BaianaSystem e escutem o Mano a Mano, podcast do Brown.









domingo, 13 de fevereiro de 2022

Contatos com as drogas

Meu primeiro contato com as drogas ocorreu quando eu tinha dez anos de idade.

No subúrbio de São Paulo, em uma madrugada de algum dia útil. Na altura, eu e a minha irmã dormíamos em um colchão improvisado no chão e lembro de ambas acordarmos assustadas com a campainha tocando. Ficamos quietas aguardando os nossos pais agirem. Em pouco tempo, a minha mãe voltou e levou a gente para dormir com eles. 


Naquele dia, uma mãe preta e solo, grande amiga da família, e a sua filha, trabalhadora assídua, iriam dormir com a gente. Há algumas ruas, o filho e irmão delas chegou em casa transtornado - havia usado drogas. Quebrou tudo, ameaçou-as… Com medo, elas fugiram correndo até a nossa casa.

Este foi o meu primeiro contato com as drogas.


Meu segundo contato com as drogas aconteceu uns 10 anos mais tarde.

Em uma zona nobre da cidade onde morava, em uma festa de bebida liberada. Eu e uma amiga estávamos conversando com dois caras que conhecemos por lá. Já estávamos bastante bêbadas. Em algum momento, eles foram buscar bebida. Ambos eram, aparentemente, estudantes sustentados pelos pais. Brancos, loiros, de olhos claros. Enquanto nos entregavam as bebidas, falavam entre si que um menino da festa “queria comprar doce”. Puxei a minha amiga pelo braço. Para eles, disse que iríamos ao banheiro. Para ela, disse que estavam vendendo drogas. Fomos embora.


São apenas contos, mas poderiam representar a realidade.


sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Crise dos 30


Depois de uma vida inteira sem escrever por causas próprias, aqui estou. Redatora em pausa na carreira, cursando doutorado em Linguística, honestamente apavorada com a tela em branco. 


Na última vez que escrevi para mim e umas poucas pessoas, diga-se amigos, familiares e ex crushes, ainda não havia Google Docs e os meus  falecidos blogs ficavam em domínios hoje também inexistentes. A própria palavra “crush” foi incorporada à Língua Portuguesa depois dessa época. 

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Coincidentemente, desta vez, estou escrevendo no Docs, refletindo se devo inserir ou não este e os possíveis futuros textos em um espaço aberto. A ideia, a princípio, é compartilhá-los com a minha primeira leitora. Aliás, esta retomada é também uma homenagem à melhor prima do universo - aquela que te pede para voltar ao ofício. 


De outra parte, é uma forma de materializar as divagações já escritas na minha cabeça, as quais por ordem da vida acadêmica, que também ordenou excelentes dores nos meus  joelhos, nunca saíram do plano das ideias - longas histórias.


Nas editoras, a assinatura dos textos e livros saem em nome das companhias - nada mais justo, afinal, existem propostas, revisões e contratos. No raso, assim me sinto muito mais confortável. 


Voltar a escrever publicamente aos  30 é um ato profundo de exposição e, segundo o meu psicólogo, sinto-me bem quando estou escondida. Apesar disso, o que menos tenho feito na vida é me esconder. Paradoxos. Aqui estou, redigindo as “palavras, atos e omissões” que, por mais de dez anos, têm me pixado internamente.