sexta-feira, 15 de julho de 2022

Filtro dos sonhos

Assim como muitas pessoas, não acredito tanto em destino. O que nos diferencia é amar convencê-las do oposto.  Na verdade,  gosto de ver poesia em tudo, e quando ela não existe, bem...  a gente dá uma forçadinha. Outras vezes, o cáos dá uma super força.

Eu tenho um  filtro dos sonhos e ele é perfeito. Se ganhei esse acessório por destino ou sorte, não sei. Mas a narrativa é que foi o destino que trouxe esse objeto que, há anos, é-me essecial. Sou uma mulher de muitos sonhos e andanças, sou a dona do substantivo intensidade. Assim como disse Fernando Pessoa "tenho em mim todos os sonhos do mundo". E se os tenho todos, é bom ter um filtro para usar com eles (risos).  

Gostaria de me estender e contar os detalhes relativos a esse presente que "a vida me deu", mas  esta é uma história antiga e só me recordo de algumas coisas. É o causo de alguém que fez uma amiga por causa de um acidente e, depois, para agradá-la, foi a uma festa na qual estava super desinteressada. 

Quase arrastada, fui à tal festa. Aqui, advirto que, na maioria das vezes em que não coloco fé em uma atividade: quando não espero absolutamente nada de uma festa,  um passeio, um rolê e, até um encontro, a coisa sempre vira o jogo. A festa estava perfeita! Todavia, por ironia do destido, logo eu, a inimiga do fim, precisava ir embora e, pior, sozinha.  

Nesse tempo, a gente chamava táxis. Deixei a minha amiga encaminhada e chamei o meu. Fiquei mexendo no telefone e, quando reparei, do nada, o veículo já estava lá. Chateada por ir embora, mas feliz por estar, supostamente, tomando a decisão correta, apressei-me para entrar. Ao adentrar o carro, qual não foi a minha surpresa: já havia um passageiro. Desculpei-me pelo engano e fui saindo. Para a minha preocupação, o taxista avisou que por causa das condições do tempo, os outros táxis estavam indo embora e eu não ia conseguir debandar tão cedo. Agradeci e disse que esperaria. Para a minha alegria, mesmo sem  saber para aonde eu ia, o passageiro oficial me ofereceu uma "carona". Percebendo que o convite era fraterno, aceitei. 

No caminho, "como é de são efeito", fomos nos conhecendo. Descobri que ele estudou na mesma escola que as minhas primas, em uma cidade totalmente distante da que estávamos. Também estáva indo estudar na mesma cidade universitária em que uma delas estudou. Foi à festa, porque, de última hora, um amigo do seu quase "ex-laboratório" da pós-graduação o convidou. Sentindo-se deslocado, decidiu ir para casa. 

Sem grandes pretensões, trocamos nossos números. Ambos estávamos de mudança: ele dentro dois  dias, eu, de dois meses. Para minha surpresa, ele ligou. Para minha maior surpresa, encontramo-nos: um dia antes de ele mudar para outro estado. 

Na mesa de um bar que eu detestava, dialogamos por horas. Conversamos como, raramente, conversa-se em semanas. A gente se encontrou de verdade. Quando o estabelecimento fechou, partimos. Cada um para a sua casa. Nada que passamos, em tantos anos naquela cidade, tinha sido tão legal (dissemos). 

Viramos as costas e, tornando-nos amigos de redes sociais, perdemos o contato. É justo dizer que a culpa foi principalmente minha e, sobretudo, de uma época difícil da minha vida. 

Em alguns meses, procurou pela minha melhor amiga no Instagram,  pegou o endereço dela e, sem que eu soubesse, enviou-me o tal filtro dos sonhos de presente.

Hoje, a gente ainda conversa: eu, ele e o filtro. Eles me acompanham por toda parte, quer com os olhos, quer com a mochila. 

Depois de anos, brevíssimo, em um terceiro estado, reencontramo-nos. Foi o tempo de uma cerveja.  

No último eclipse, aconselhou-me a ir olhar o céu. Na última Super Lua, foi a minha vez de lhe alertar.

Não sei se acredito em destino, mas nestas histórias, sim. 

Quem sabe um dia esta terá final? Quem sabe já teve e é bem bonito.

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