domingo, 14 de janeiro de 2024

Autodesconhecimento?

Quase um ano sem postar nada. É uma tradição.

Vez ou outra eu navego pelo espaço de amigos ou desconhecidos e vejo que quase todo mundo faz isso. Vivo repetindo, mesmo que anualmente, que eu escrevo, porque preciso e não porque gosto. Não que não goste de ser lida e agradeça imensamente pelos poucos comentários que recebo. Aliás, muito obrigada! Mas, a verdade é que sinto muita dificuldade de respirar fundo e parar, ficar tranquila colocando as coisas no "papel".

A cada dia que passa, percebo como sou elétrica e que, raramente, tenho quietude mental e física. Aí, em meses, ou anos, sinto essa necessidade de colocar as coisas para fora - quando elas já não estão cabendo em mim – e me recordo do blog. Você, caro leitor, caiu em um esquema de terapia (risos). 

Um dos últimos textos que publiquei (eu acho) falava da minha ansiedade sobre mudar de cidade novamente. Já mudei algumas e, durante muito tempo, era uma aventura maravilhosa. Ao vir para a cidade que me encontro para cursar o doutorado, tive medo de ficar infeliz, de não viver boas experiências e não fazer amizades. 

Entre idas e vindas, passando alguns meses aqui e outros na casa dos meus pais, pela possibilidade de trabalhar on-line, tive tempo de fazer e desfazer amizades. Acho que, em um primeiro momento, a resposta para aquela Flor ansiosa e temerosa foi uma vivência fílmica, muito intensa da nova cidade e das amizades. Elas foram, em muito, a minha razão de decidir ficar por aqui de vez – por hora. Mas, em alguma curva das minhas idas e vindas, da necessidade de manter o foco na pesquisa, acabei me perdendo de algumas delas.  Essa situação me colocou de frente com um grande questionamento sobre se a cidade significaria tanto para mim quanto eu imaginava.

Antes de responder a essa autorreflexão, cabe dizer que sempre acredito na importância de dizer “sim” e aceitar propostas, mesmo que elas saiam da nossa zona de conforto, quando isso não representar quaisquer inseguranças. 

Bem, eu não jogo sinuca e nem pretendo aprender. Sou de humanas, não tenho coordenação motora, raciocínio lógico aguçado, enfim. Todavia, fui convidada para uma despedida de uma pessoa, com quem morei, para “aprender sinuca” e, depois de dois ou três vexames, sentei em uma mesa de canto e comecei a beber e só observar. 

Estava cercada somente de homens, era um ambiente no qual eu jamais entraria sozinha para tomar uma cerveja. Por sorte, mais sorte que eu imaginaria, apareceu uma garota e ela ficou uns 40 minutos apenas sentada ao meu lado antes de ir embora e antes se tornar uma grande amiga. 

Na semana passada, dormi na casa dela todos os dias. Ela achava que era ela que estava precisando de companhia, porque o namorido está trabalhando fora. Contudo, quem estava precisando conversar era eu. Hoje, a propósito, eu divido casa com uma outra amiga, que conhecei por causa desta primeira. Ou seja, um convite, uma amiga, outra amiga e uma casa. Um lar barato, aconchegante e confiável, decorrente de um aceite anterior.

Voltando ao questionamento, eu não trocaria a felicidade que vivi para não experenciar o luto que vivenciei por ter perdido as outras pessoas de quem eu fui próxima. Cheguei à conclusão que existem as circunstâncias, existem as decisões individuais e existe a tranquilidade de quem deu tudo de si.

Eu amo muito a cidade onde me encontro, ela é linda, tem acesso a cultura, é bem arborizada, sou sempre bem tratada, tenho uma rotina boa para uma doutoranda.    A gratidão por tantas coisas boas não se dissipa. Mas, hoje, mais madura, buscando a quietude que nunca tive, entendo que melhor que quantidade é qualidade: hoje, diria que tenho, ao menos duas pessoas que vou me esforçar ao máximo para levar para a vida. Talvez mais, talvez menos. Elas são super diferentes de mim, uma delas quase ficou pelo caminho por isso. Mas este tempo me ensinou que as diferenças, apesar das dificuldades da prática diária, me engrandecem muito.

Outra coisa importante é valorizar os “sims” e as novas possíveis conexões, salvaguardado o tempo de qualidade para cuidar das amizades já existentes. As amizades acontecem de forma orgânica, mas a gente precisa aceitar, convidar para entrar e receber bem. A gente nunca vai saber quem ficará, então, é bom expandir e – volto a dizer – cuidar bem dos laços.

Sim, vou amar esta cidade para sempre, porque doei o que pude da melhor forma pelas relações que fiz e que mantenho aqui (ainda doo). Estou bem satisfeita com a minha entrega e, talvez, se as pessoas que ficaram forem embora de onde estamos, assim como eu, mais dia, menos dia, também irei, será estranho – mas não menos grato – passar por aqui.

Todo lugar em que passamos longos períodos trazem vivências: boas, difíceis, mágicas e comuns. É importante sempre trabalhar o pensamento para que eles reflitam em reconforto sentimental, felicidade, quiçá.

O doutorado vai relativamente muito bem. Está na hora de qualificar e o prazo parece apertado para uma pessoa perfeccionista como eu. É manter o foco e correr atrás. Esta trajetória tem sido bem melhor que a do mestrado.

Volto em breve, com novidades, porque estou precisando falar.