domingo, 17 de julho de 2022

Porteiro

Te vi  muitas vezes.

Por que  nunca disse?

Cê parecia distante.

Estava viajando.

Morei naquela casa também.

Quer cachaça?

Vai arder?

Áries com aquário.

Vim para isso.

Vou ficar fora.

Vai voltar logo?

Não sei.

Volta.

E o Mar?

E eu? 

Não te conheço.

Vim pra te ver. 

Vai voltar?

Sempre. 

 





sexta-feira, 15 de julho de 2022

Filtro dos sonhos

Assim como muitas pessoas, não acredito tanto em destino. O que nos diferencia é amar convencê-las do oposto.  Na verdade,  gosto de ver poesia em tudo, e quando ela não existe, bem...  a gente dá uma forçadinha. Outras vezes, o cáos dá uma super força.

Eu tenho um  filtro dos sonhos e ele é perfeito. Se ganhei esse acessório por destino ou sorte, não sei. Mas a narrativa é que foi o destino que trouxe esse objeto que, há anos, é-me essecial. Sou uma mulher de muitos sonhos e andanças, sou a dona do substantivo intensidade. Assim como disse Fernando Pessoa "tenho em mim todos os sonhos do mundo". E se os tenho todos, é bom ter um filtro para usar com eles (risos).  

Gostaria de me estender e contar os detalhes relativos a esse presente que "a vida me deu", mas  esta é uma história antiga e só me recordo de algumas coisas. É o causo de alguém que fez uma amiga por causa de um acidente e, depois, para agradá-la, foi a uma festa na qual estava super desinteressada. 

Quase arrastada, fui à tal festa. Aqui, advirto que, na maioria das vezes em que não coloco fé em uma atividade: quando não espero absolutamente nada de uma festa,  um passeio, um rolê e, até um encontro, a coisa sempre vira o jogo. A festa estava perfeita! Todavia, por ironia do destido, logo eu, a inimiga do fim, precisava ir embora e, pior, sozinha.  

Nesse tempo, a gente chamava táxis. Deixei a minha amiga encaminhada e chamei o meu. Fiquei mexendo no telefone e, quando reparei, do nada, o veículo já estava lá. Chateada por ir embora, mas feliz por estar, supostamente, tomando a decisão correta, apressei-me para entrar. Ao adentrar o carro, qual não foi a minha surpresa: já havia um passageiro. Desculpei-me pelo engano e fui saindo. Para a minha preocupação, o taxista avisou que por causa das condições do tempo, os outros táxis estavam indo embora e eu não ia conseguir debandar tão cedo. Agradeci e disse que esperaria. Para a minha alegria, mesmo sem  saber para aonde eu ia, o passageiro oficial me ofereceu uma "carona". Percebendo que o convite era fraterno, aceitei. 

No caminho, "como é de são efeito", fomos nos conhecendo. Descobri que ele estudou na mesma escola que as minhas primas, em uma cidade totalmente distante da que estávamos. Também estáva indo estudar na mesma cidade universitária em que uma delas estudou. Foi à festa, porque, de última hora, um amigo do seu quase "ex-laboratório" da pós-graduação o convidou. Sentindo-se deslocado, decidiu ir para casa. 

Sem grandes pretensões, trocamos nossos números. Ambos estávamos de mudança: ele dentro dois  dias, eu, de dois meses. Para minha surpresa, ele ligou. Para minha maior surpresa, encontramo-nos: um dia antes de ele mudar para outro estado. 

Na mesa de um bar que eu detestava, dialogamos por horas. Conversamos como, raramente, conversa-se em semanas. A gente se encontrou de verdade. Quando o estabelecimento fechou, partimos. Cada um para a sua casa. Nada que passamos, em tantos anos naquela cidade, tinha sido tão legal (dissemos). 

Viramos as costas e, tornando-nos amigos de redes sociais, perdemos o contato. É justo dizer que a culpa foi principalmente minha e, sobretudo, de uma época difícil da minha vida. 

Em alguns meses, procurou pela minha melhor amiga no Instagram,  pegou o endereço dela e, sem que eu soubesse, enviou-me o tal filtro dos sonhos de presente.

Hoje, a gente ainda conversa: eu, ele e o filtro. Eles me acompanham por toda parte, quer com os olhos, quer com a mochila. 

Depois de anos, brevíssimo, em um terceiro estado, reencontramo-nos. Foi o tempo de uma cerveja.  

No último eclipse, aconselhou-me a ir olhar o céu. Na última Super Lua, foi a minha vez de lhe alertar.

Não sei se acredito em destino, mas nestas histórias, sim. 

Quem sabe um dia esta terá final? Quem sabe já teve e é bem bonito.

terça-feira, 5 de julho de 2022

Términos

Estava pensando comigo que os términos são sempre difíceis. Aliás, será que são? Da última vez que terminei um relacionamento, não tive tempo para sofrer. Não que não "quisesse", mas a vida estava batendo sonoricamente na minha porta e, de início, não deu para chorar na cama:  meu pai estava doente, meu avô estava doente, e, em seguida, também adoeci. 

Será que os términos são sempre difíceis? Talvez em parte. 

Chorei uma vez.  Pesada e sentidamente. Um choro meio filmico, daqueles de assoar o nariz. Com surpresa, tenho carinho por este dia. Sem falar nada, a minha mãe e o meu pai estiveram ali comigo, o que nos aproximou ainda mais. Ela fez um chá e deitou comigo na cama, ele me deu uma valeriana e um abraço. Ninguém pediu para eu para falar nada - melhorei. 

Depois destes dias, fiz uma viagem perfeita ao Rio de Janeiro, reencontrei a minha autoestima, senti-me linda, interessante, uma mulher incrível: estou assim até agora (risos).

E aí, a gente recomeça, como aconselha Miguel Torga. 

Mudei de casa, de vida, cativei e fui cativada por pessoas incríveis. Em 9 meses, voltei a ser quem eu era: a respirar e a ventilar a vida. Também tornei-me outra pessoa: mais bonita, mais alegre, mais feliz.  Não é exagero nenhum dizer que isso tem relação com o contexto que encontrei em minha nova cidade: valorização pessoal e profissional, um céu perfeito e um cinema beeem barato.

Pelas primeiras vezes, tenho sentido saudade. Antes, sentia uma raiva infinita e a sensação de que ela nunca passaria. Hoje, sentir essa saudade me assusta, mas também me cura. Voltar seria um desencontro comigo, não é só inviável, é inrealizável, reconhecer isso é maturidade. 

Neste processo, tenho aprendido que a decisão por nós é que não é fácil. Mais difícil que viver um término é ficar sozinho para enxergar seus defeitos de perto, sem precisar do contraste dos outros e, pior, sem poder culpá-los. Isso, sim, é tortura. Mas também é um processo de autocura, autoamor, (re)descoberta.

De fato, não sei responder se os términos são sempre difíceis. Pelo que conversamos, parece que sim, mas são também experenciados de formas diferentes. Alguns, como o meu, ficam em modo de espera e depois viram saudade. Passei quase 5 anos ao lado de uma pessoa e, ao terminar, fui da raiva ao autoamor. 

Agora, tenho me ocupado com algo em que sempre acreditei: "o imperioso".  Deixo a vida fluir e, curiosa, observo seus movimentos. Não ato e nem desato nós. Só acompanho, dançando, o movimento das cordas. Com intensidade, apaixono-me pelo dia e suas oportunidades, mas sem qualquer "sufoquidão". 

Abaixo,  a minha adaptadação de Sisífo:

SÍSIFO - Miguel Torga

Recomeça….

Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciada,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És mulher, não te esqueças
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças…