terça-feira, 5 de julho de 2022

Términos

Estava pensando comigo que os términos são sempre difíceis. Aliás, será que são? Da última vez que terminei um relacionamento, não tive tempo para sofrer. Não que não "quisesse", mas a vida estava batendo sonoricamente na minha porta e, de início, não deu para chorar na cama:  meu pai estava doente, meu avô estava doente, e, em seguida, também adoeci. 

Será que os términos são sempre difíceis? Talvez em parte. 

Chorei uma vez.  Pesada e sentidamente. Um choro meio filmico, daqueles de assoar o nariz. Com surpresa, tenho carinho por este dia. Sem falar nada, a minha mãe e o meu pai estiveram ali comigo, o que nos aproximou ainda mais. Ela fez um chá e deitou comigo na cama, ele me deu uma valeriana e um abraço. Ninguém pediu para eu para falar nada - melhorei. 

Depois destes dias, fiz uma viagem perfeita ao Rio de Janeiro, reencontrei a minha autoestima, senti-me linda, interessante, uma mulher incrível: estou assim até agora (risos).

E aí, a gente recomeça, como aconselha Miguel Torga. 

Mudei de casa, de vida, cativei e fui cativada por pessoas incríveis. Em 9 meses, voltei a ser quem eu era: a respirar e a ventilar a vida. Também tornei-me outra pessoa: mais bonita, mais alegre, mais feliz.  Não é exagero nenhum dizer que isso tem relação com o contexto que encontrei em minha nova cidade: valorização pessoal e profissional, um céu perfeito e um cinema beeem barato.

Pelas primeiras vezes, tenho sentido saudade. Antes, sentia uma raiva infinita e a sensação de que ela nunca passaria. Hoje, sentir essa saudade me assusta, mas também me cura. Voltar seria um desencontro comigo, não é só inviável, é inrealizável, reconhecer isso é maturidade. 

Neste processo, tenho aprendido que a decisão por nós é que não é fácil. Mais difícil que viver um término é ficar sozinho para enxergar seus defeitos de perto, sem precisar do contraste dos outros e, pior, sem poder culpá-los. Isso, sim, é tortura. Mas também é um processo de autocura, autoamor, (re)descoberta.

De fato, não sei responder se os términos são sempre difíceis. Pelo que conversamos, parece que sim, mas são também experenciados de formas diferentes. Alguns, como o meu, ficam em modo de espera e depois viram saudade. Passei quase 5 anos ao lado de uma pessoa e, ao terminar, fui da raiva ao autoamor. 

Agora, tenho me ocupado com algo em que sempre acreditei: "o imperioso".  Deixo a vida fluir e, curiosa, observo seus movimentos. Não ato e nem desato nós. Só acompanho, dançando, o movimento das cordas. Com intensidade, apaixono-me pelo dia e suas oportunidades, mas sem qualquer "sufoquidão". 

Abaixo,  a minha adaptadação de Sisífo:

SÍSIFO - Miguel Torga

Recomeça….

Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciada,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És mulher, não te esqueças
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças…


2 comentários:

  1. Escolheu muito bem a sugestão literária sobre esse sentimento
    Adorei
    🙂

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    1. Muito obrigada, de verdade! É ótimo poder ter o seu retorno sobre as minhas composições.

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